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Experiência, o petróleo do novo século?

Desde os primórdios da humanidade, as experiências dos seres humanos têm sido objeto de análise e reflexão. Na Grécia Antiga, por exemplo, a filosofia surgia como uma forma de investigar o mundo e compreender a experiência humana.

No mundo atual, a experiência é cada vez mais valorizada pelos consumidores como um fator decisivo na escolha de produtos e serviços. Empresas que priorizam a experiência do usuário têm vantagens competitivas claras em relação às suas concorrentes, desde maior fidelização e engajamento até melhores resultados financeiros. Mas será que essa tendência é apenas uma moda passageira ou se trata de algo mais duradouro e transformador? É justamente essa questão que vamos explorar neste artigo: a experiência como uma das principais commodities do século XXI e o impacto disso no mercado e na sociedade como um todo.

As primeiras observações feitas pelo homem sobre a experiência de outros seres remontam à pré-história, quando nossos ancestrais começaram a se comunicar e trocar informações sobre o mundo ao seu redor. Registros pictóricos em cavernas, como as famosas pinturas rupestres de Lascaux, na França, e Altamira, na Espanha, mostram animais sendo representados de forma realista, com detalhes anatômicos precisos e expressões que parecem transmitir uma emoção ou sensação. Essas pinturas podem ser interpretadas como uma tentativa de registrar a experiência dos nossos antepassados com esses animais, seja como presas ou como companheiros de vida. Mais tarde, na antiguidade, filósofos como Platão e Aristóteles já discutiam sobre a experiência sensorial e a percepção humana, trazendo reflexões que ainda reverberam nos dias de hoje.

Desde os primórdios da humanidade, as experiências dos seres humanos têm sido objeto de análise e reflexão. Na Grécia Antiga, por exemplo, a filosofia surgia como uma forma de investigar o mundo e compreender a experiência humana.

Os filósofos gregos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, desenvolveram escolas de pensamento que buscavam entender o mundo através da observação e reflexão sobre as experiências cotidianas.

As primeiras escolas de pensamento surgiram na Antiguidade, há mais de dois mil anos, e surgiram justamente com o intuito de entender melhor as experiências do cotidiano e, assim, proporcionar melhores condições de vida para as pessoas. Dentre elas, destacam-se a Escola Cínica e a Escola Estoica.

A Escola Cínica surgiu na Grécia Antiga, no século IV a.C., e defendia a ideia de que o ser humano deveria buscar a felicidade através da renúncia aos bens materiais e das convenções sociais. Os cínicos valorizavam a simplicidade e a autossuficiência, e acreditavam que a verdadeira felicidade era alcançada através do autoconhecimento e da vida em harmonia com a natureza.

Já a Escola Estoica surgiu no mesmo período na Grécia Antiga, mas ganhou mais força no Império Romano, nos séculos II e III d.C. Os estoicos acreditavam que a felicidade poderia ser alcançada através do autocontrole e da sabedoria, e defendiam a ideia de que as experiências negativas poderiam ser transformadas em oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal.

Ambas as escolas de pensamento tinham em comum a ideia de que a experiência é fundamental para a compreensão do mundo e para o desenvolvimento pessoal. Já na Idade Média, a filosofia se uniu à teologia, e muitos pensadores medievais, como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, procuraram entender a experiência humana em relação à fé e à religião. No Renascimento, o humanismo surgiu como uma corrente filosófica que valorizava a experiência humana e a cultura clássica, buscando compreender a natureza e a condição humana através da observação e da reflexão.

Mais tarde, no século XVII, René Descartes desenvolveu uma teoria que desafiou a ideia de que as percepções humanas são uma fonte confiável de conhecimento. Ele argumentou que a mente e o corpo são separados e que apenas a razão pode levar à verdade. Essa teoria teve um grande impacto na filosofia e na ciência, mas também levantou questões sobre a validade da experiência humana.

Outros filósofos, como Immanuel Kant no século XVIII, argumentaram que a experiência é fundamental para a compreensão do mundo e da realidade. Para Kant, a experiência não é apenas uma fonte de conhecimento, mas também uma estrutura que molda nossa compreensão do mundo.

Na mesma época, o filósofo inglês John Locke desenvolveu a teoria do empirismo, que afirmava que todo o conhecimento humano é baseado na experiência sensorial. Locke acreditava que a mente humana era uma “tábula rasa” no nascimento, e que todas as ideias e conhecimentos eram adquiridos através da experiência.

Com o passar dos séculos, a compreensão da experiência humana foi se tornando cada vez mais complexa, e novas disciplinas surgiram para estudá-la em diferentes contextos. Na virada do século XX, a psicologia emergiu como uma disciplina que se concentrava na compreensão da experiência humana. Sigmund Freud desenvolveu a psicanálise, uma teoria que explora o papel do inconsciente na formação da experiência humana. Outros psicólogos, como William James e John Dewey, enfatizaram a importância da experiência no processo de aprendizagem e no desenvolvimento humano.

O psicólogo alemão Wilhelm Wundt foi um importante psicólogo alemão que contribuiu para o estudo da experiência humana através da fundação do primeiro laboratório de psicologia experimental em 1879, na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Wundt acreditava que a psicologia deveria ser uma ciência experimental, que pudesse estudar a experiência humana de forma objetiva e sistemática.

O laboratório de Wundt tinha como objetivo analisar as experiências mentais através de métodos precisos e controlados, usando técnicas como a introspecção experimental. Ele e seus alunos realizavam experimentos para estudar sensações como a cor, a luz e o som, bem como processos mentais como a atenção, a percepção e a memória.

Os estudos de Wundt foram fundamentais para o desenvolvimento da psicologia como uma ciência empírica e influenciaram a forma como os psicólogos passaram a entender a experiência humana. Seus métodos de pesquisa e análise experimental tornaram-se padrões para a psicologia moderna, abrindo caminho para outras escolas de pensamento que se concentraram na experiência subjetiva, como a fenomenologia.

Wundt e seu laboratório foram responsáveis por um avanço significativo na compreensão da experiência humana, o que acabou por influenciar a evolução do design como uma disciplina que se concentra em criar experiências significativas para as pessoas.

No início do século XX, as empresas começaram a perceber que a experiência do consumidor era fundamental para o sucesso de seus negócios. A Henry Ford, por exemplo, criou a linha de montagem em 1913, que permitiu a produção em massa de carros a preços acessíveis, tornando-os mais acessíveis e desejáveis para os consumidores. A Ford também foi pioneira no desenvolvimento de pesquisas de mercado, realizando estudos para entender melhor as necessidades e desejos dos consumidores.

Nos anos 1920 e 1930, surgiram os primeiros departamentos de propaganda e marketing nas empresas, com o objetivo de criar mensagens persuasivas e atraentes para os consumidores. Em 1923, a agência de publicidade J. Walter Thompson criou o conceito de “persona” para se referir aos diferentes perfis de consumidores, e a partir daí começou a desenvolver campanhas publicitárias específicas para cada persona.

Já na década de 1940, a Walt Disney Company começou a aplicar conceitos de design e storytelling para criar experiências únicas para seus clientes nos parques temáticos. Walt Disney, juntamente com sua equipe de imagineiros, utilizou a técnica de design thinking para criar atrações que cativam o público e criam memórias duradouras.

Esses avanços mostraram que a experiência do consumidor é um fator chave para o sucesso de um negócio. As empresas que reconhecem isso e investem em criar experiências positivas e memoráveis têm maior probabilidade de fidelizar seus clientes e alcançar sucesso a longo prazo. Em 1990, Don Norman escreveu o livro “The Design of Everyday Things”, que se tornou um marco na história do design centrado no usuário. No mesmo período, a Apple liderou o movimento em direção a uma abordagem mais orientada ao usuário com o desenvolvimento do Macintosh e da interface gráfica do usuário.

Em 2001, a publicação do livro “The Experience Economy” de Joseph Pine e James Gilmore lançou a ideia de que a experiência é a próxima fronteira do valor econômico. Eles argumentam que a economia evoluiu de uma economia agrícola para uma economia industrial e depois para uma economia de serviços. Agora, a economia está evoluindo para uma economia da experiência, onde as empresas criam valor ao fornecer experiências únicas e memoráveis para seus clientes.

A partir dos anos 2000, empresas de tecnologia como a Google e a Amazon investiram em design de experiência do usuário. A Google, por exemplo, lançou o Google Analytics em 2005, que ajudou a medir o desempenho das experiências online. A Amazon, por sua vez, criou o programa Amazon Prime em 2005, que oferece uma experiência de compra online mais rápida e conveniente.

Mais recentemente, empresas como a Airbnb e a Uber estão transformando a maneira como as pessoas viajam e se deslocam através de experiências mais personalizadas e convenientes. A Airbnb fornece experiências únicas de hospedagem e a Uber oferece serviços de transporte mais acessíveis e convenientes, ambos com o uso de aplicativos móveis para fornecer uma experiência mais fácil e integrada.

Esses avanços na abordagem centrada no usuário têm um impacto significativo no mercado. Um estudo da Forrester Research descobriu que as empresas que lideram em design centrado no usuário têm um crescimento de receita 2,2 vezes maior em relação às empresas que não priorizam o design. Além disso, empresas que se concentram na experiência do usuário veem uma taxa de conversão 400% maior do que aquelas que não se concentram.

Com base em estudos e relatórios publicados na última década, é possível observar que a experiência do consumidor é um dos principais diferenciais para o sucesso das empresas. Segundo a consultoria McKinsey, empresas que oferecem uma experiência excepcional para seus clientes podem aumentar suas receitas em até 15%. Além disso, a consultoria Forrester Research afirma que um bom atendimento ao cliente pode fazer com que os clientes gastem até 3 vezes mais com a empresa.

Outro exemplo de como a experiência do consumidor pode ser um fator crucial para o sucesso das empresas é o estudo realizado pela consultoria Accenture, que mostra que 61% dos consumidores deixam de comprar de uma empresa devido a uma experiência ruim. Por outro lado, empresas que oferecem uma experiência positiva podem ver um aumento de 5 a 10% em suas receitas.

Estes dados deixam claro que a experiência do consumidor é um recurso valioso para as empresas, e que os designers têm um papel fundamental em ajudar as empresas a explorá-lo da melhor forma possível. É importante que os designers sejam capazes de criar soluções que atendam às necessidades dos consumidores, e que entreguem uma experiência positiva e marcante.

A experiência do consumidor é o novo petróleo que permitirá que novos produtos surjam, serviços diferentes nasçam e horizontes ainda não conhecidos sejam explorados. Por isso, é fundamental que os designers atuem com beleza e responsabilidade, criando soluções que sejam não apenas bonitas, mas também úteis e relevantes para os consumidores. Somente assim as empresas poderão se destacar em um mercado cada vez mais competitivo e atender às expectativas dos consumidores.

Explorando Experiências na Prática

Dinâmica em grupo com foco em mapeamento de jornada, definição dos pontos de contato e prototipação de soluções para enriquecimento das experiências de uso.

  • Introdução (10 minutos)
    Apresente a atividade e explique os objetivos de mapeamento da jornada do usuário, definição dos pontos de contato e prototipação de soluções para enriquecimento das experiências de uso.
    Esclareça as etapas da dinâmica e as ferramentas a serem utilizadas.
    Forme grupos de até 5 pessoas e apresente os materiais necessários para cada grupo (post-its, canetas, folhas em branco, etc.).
  • Mapeamento da Jornada (30 minutos)
    Peça para que os grupos desenhem a jornada do usuário em um papel grande, marcando os pontos de contato e as emoções que o usuário sente em cada etapa do processo.
    Peça para que discutam entre si para entender as principais dores e desafios encontrados pelo usuário.
  • Definição dos Pontos de Contato (20 minutos)
    Peça para que os grupos identifiquem os pontos de contato mais importantes do usuário com o produto/serviço em questão.
    Peça para que discutam entre si para entender as oportunidades de melhoria em cada ponto de contato identificado.
  • Prototipação de Soluções (40 minutos)
    Peça para que os grupos prototipem soluções para os pontos de contato identificados anteriormente.
    Os grupos podem utilizar os materiais disponíveis para criar maquetes, desenhos, fluxogramas ou qualquer outra forma de representação visual das soluções.
    Peça para que os grupos justifiquem suas soluções e como elas podem melhorar a experiência do usuário.
  • Apresentação (20 minutos)
    Peça para que cada grupo apresente suas soluções para os demais.
    Encoraje a discussão e troca de ideias entre os grupos.
    Faça uma síntese das principais conclusões e oportunidades de melhoria identificadas na atividade.
  • Conclusão (10 minutos)
    Finalize a atividade agradecendo a participação dos grupos e destacando a importância da experiência do usuário para o sucesso de um produto ou serviço.
    Compartilhe informações relevantes sobre como a empresa pretende utilizar as informações e soluções propostas na atividade.
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